Por que o mercado brasileiro de Food Service ainda rejeita a inovação? Uma abordagem crítica e honesta sobre o poder avassalador do networking

O Brasil é um dos maiores mercados de Food Service da América Latina, com milhares de restaurantes corporativos e comerciais movimentando bilhões anualmente.

Capital para investir existe. Interesse em modernização também. Então, o que realmente impede que mais inovações sejam implementadas com sucesso?

A resposta está em algo menos tangível, mas igualmente essencial: a ausência de networking estratégico que viabilize essas implementações.

| Inovação sem ecossistema de suporte não é oportunidade — é risco alto demais.

O verdadeiro motivo da resistência à inovação

A resistência do mercado brasileiro à inovação é frequentemente interpretada como conservadorismo ou falta de visão estratégica. Mas essa leitura é superficial e ignora a complexidade do problema real. Quando olhamos com mais atenção, descobrimos que a questão não está na mentalidade dos gestores, mas na ausência de estruturas que tornem a inovação viável e segura.

Acompanhe!

| Leia também: Pequenas grandes ideias: o papel das microtendências no setor de Food Service

Não é conservadorismo, é falta de infraestrutura

Existe hoje um mito que circunda o mercado de food service: gestores são conservadores por natureza. A realidade é bem diferente — e mais complexa.

Não é que eles rejeitam inovação por teimosia. Eles avaliam riscos de forma racional em um contexto onde faltam referências locais confiáveis, onde a exposição ao que existe de mais atual no mercado global é limitada, e onde os custos de ser pioneiro são proporcionalmente maiores quando você está sozinho.

Os medos são reais e legítimos:

  1. Perguntas como “e se quebrar e não tiver assistência técnica?” não são infundadas quando um equipamento parado significa prejuízo diário e operação comprometida.
  2. A preocupação de que “minha equipe não vai saber usar” faz todo sentido quando não se tem em vista um treinamento verdadeiramente adequado.
  3. Questionamentos como “o investimento é muito alto” são prudentes quando faltam referências para justificar centenas de milhares de reais destinados a um único equipamento.

Os 70% invisíveis da inovação

Cada um desses receios não está ligado à tecnologia em si. Está ligado à ausência de uma rede de suporte: fornecedores confiáveis, técnicos certificados, comunidades de usuários, cases comprovados.

Está ligado, fundamentalmente, à falta de networking.

Aqui uma verdade: a tecnologia representa apenas 30% da equação de sucesso na implementação de inovações em Food Service. Os outros 70% — a parte que realmente determina se um investimento vai prosperar ou fracassar — aparecem invisíveis nos catálogos ou fichas técnicas.

Esses 70% incluem suporte técnico, estoque de peças críticas, treinamento profundo da equipe, comunidades para troca de experiências, cases de sucesso verificáveis, e a confiança construída ao longo de relacionamentos comerciais duradouros.

O que catálogos não mostram

Quando você participa de eventos como a Host Milano, o que realmente acontece?

Conversas francas com demais profissionais inseridos na área e acostumados com a dinâmica do mercado revelam detalhes sobre fabricantes, equipamentos e novas tecnologias.

Porque, convenhamos, nenhum estudo de mercado, por mais completo que seja, substitui perguntar diretamente a quem já testou: Como foi a implementação no seu restaurante? Tiveram desafios? O suporte foi eficiente? Faria de novo?

Networking te dá acesso a referências reais, números reais, aprendizados reais. Você está acessando provas sociais verificáveis.

O poder de uma conversa

Um exemplo prático e fictício.

Durante um jantar pós-feira, Carlos, gerente de operações responsável por um pequeno negócio localizado na cidade de São Paulo, descobriu em conversa informal com um colega argentino que determinado equipamento tinha desafios de adaptação técnica para o mercado sul-americano e o processo de assistência era mais lento do que o esperado.

Essa informação, obtida em 15 minutos de conversa, evitou uma decisão que poderia gerar complicações operacionais significativas.

O efeito multiplicador: da adoção individual ao padrão de mercado

No Food Service o networking vai muito além do benefício individual. Ele cria ondas de transformação que elevam o mercado inteiro, reduzindo barreiras para todos os participantes.

| Leia também: O mercado evolui e nos convida a fazer o mesmo

O ciclo virtuoso do conhecimento compartilhado

O efeito multiplicador funciona como um ciclo virtuoso.

Tudo começa quando um gestor, com uma rede de contatos forte, decide implementar uma tecnologia nova. Ele não está sozinho: tem suporte de fabricante, referências de outros países e mantém um grupo de discussão com os poucos usuários que também decidiram investir no equipamento.

Outros gestores observam, de longe, os resultados, através de experiências que esse primeiro compartilha em grupos setoriais.

O conhecimento, então, se espalha naturalmente. Com o tempo, cinco, dez restaurantes adotam a mesma tecnologia e criam grupos de WhatsApp para trocar dicas, resolver problemas, negociar importação conjunta de peças.

Com massa crítica formada, fabricantes passam a investir em suporte local: centros de distribuição de peças, técnicos certificados e materiais de treinamento adaptados ao idioma local.

O que era “arriscado demais” há dois anos agora deixou de ser. A barreira de entrada caiu. O mercado evoluiu.

Da teoria à prática: um case real

Uma rede de restaurantes corporativos em São Paulo precisava modernizar suas cozinhas, mas não tinha nenhuma referência local.

Um dos gerentes responsáveis pela operação do negócio participou de um evento setorial, onde foi apresentado a um colega que havia implementado tecnologia similar em Buenos Aires.

Uma visita técnica depois, ele voltou com clareza sobre o que funcionaria no Brasil e o que precisaria adaptar.

A implementação foi concluída com sucesso e trouxe os resultados esperados em tempo razoável. Sem aquela conexão inicial? Provavelmente o projeto teria enfrentado muito mais obstáculos ou nem saído do papel.

Estratégias práticas: como fazer networking estratégico no food service

Networking eficaz não é questão de sorte ou carisma — é resultado de planejamento estratégico e execução consistente. Aqueles que dominam essa habilidade sabem que o trabalho começa muito antes do evento acontecer e se estende muito depois dos últimos apertos de mão. O segredo está em transformar cada interação em oportunidade de aprendizado e cada contato em relacionamento de longo prazo.

| Leia também: Economia circular: para o Food Service, o futuro é ainda mais sustentável

A preparação que faz a diferença

Networking não acontece sem estratégia ativa. Exige intencionalidade e follow-up consistente.

Para aqueles que querem transformar participação em eventos em vantagem competitiva real, o processo começa bem antes do evento acontecer.

Programe-se semanas antes e tenha tudo bem alinhado:

  1. Mapeie quem estará presente além dos expositores — palestrantes, outros gestores, distribuidores.
  2. Agende reuniões com antecedência, não confie no acaso dos corredores.
  3. Defina objetivos claros: você está buscando fornecedor específico? Quer entender tendências? Precisa de referências sobre equipamento X? Chegar com um plano transforma networking de atividade passiva em estratégia ativa.

Transformando conexões em ativos

Com quem vale a pena manter contato?

A documentação dessas conexões e aprendizados é fundamental para transformar conhecimento tácito em ativo organizacional.

Da mesma forma que a gestão de qualidade e processos exige registro sistemático — como fazem soluções digitais que substituem planilhas e documentos físicos por controles mais eficientes —, o networking também se beneficia de organização e continuidade.

O conhecimento fica na empresa. A rede permanece.

Conclusão

O mercado brasileiro de Food Service está em um ponto de inflexão.

A tecnologia disponível nunca foi tão avançada, o interesse por modernização nunca foi tão alto, e as pressões por eficiência e qualidade nunca foram tão intensas.

Mas entre a inspiração que vemos em eventos como a Host Milano e a transformação real das operações existe uma ponte que precisa ser construída — e essa ponte é feita de networking estratégico.

Ao longo deste artigo, vimos que a resistência à inovação no food service brasileiro não é conservadorismo ou falta de visão. É a ausência de um ecossistema de suporte que torne a implementação de novas tecnologias viável e segura — conclusão esta reforçada pelos dados da última pesquisa conduzida pela Onexo, em torno do grau de investimento em novas tecnologias para o setor (confira aqui).

É a falta de referências locais confiáveis, de comunidades de prática, de fornecedores com suporte estruturado, de conversas honestas sobre o que funciona e o que não funciona no contexto brasileiro.

E tudo isso se constrói através de conexões estratégicas entre pessoas.

A boa notícia é que construir esse ecossistema está ao alcance de qualquer um disposto a investir tempo e energia em relacionamentos genuínos.

Comece identificando eventos setoriais para participar nos próximos meses. Participe de grupos online, agende conversas com quem já implementou as tecnologias que você está considerando, documente suas conexões e aprendizados de forma estruturada, mas, acima de tudo, apareça!

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